segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Publicado no Correio do Povo: A Revolta da Chibata

Revolta da Chibata, comandante, imediato e mais oficiais do São Paulo, na revolta dos marinheiros

Rio, 26/11/1910

A Revolta da Chibata completa cem anos dia 22 de novembro. A sublevação eclodiu na Baía de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, capital da nova República. Os marujos brasileiros, a cada ato de infração, eram tratados como escravizados da época do Império. A punição mais frequente era o uso do látego às costas. A carreira militar nos quadros da Marinha se caracterizava, em virtude de uma produção agrária voltada à exportação e de um mercado interno fraco, como uma das poucas oportunidades de trabalho para as populações pobres, incluindo jovens negros que vislumbravam ascensão social poucos anos após a abolição da escravatura.
Com a modernização tecnológica da frota, um grande número de marinheiros brasileiros partiu em 1906 para a Grã-Bretanha, a fim de conhecer e aprender o manuseio dos poderosos navios de guerra que estavam sendo construídos. Eram os encouraçados Minas Gerais e São Paulo. Ao retornarem, os marujos, conscientes das novas relações de trabalho, tornaram-se homens especializados, sendo artilheiros, eletricistas e mecânicos. Aprenderam, também, os aspectos da cidadania, estas vinculadas às ideologias trabalhistas e sociais vigentes na Europa. Outro acontecimento que encorajou a revolta foi o motim ocorrido no navio russo Potemkin, em 1905. Na ocasião, os rebelados russos recusavam-se a comer carne estragada.
Retornando ao Brasil, no campo político devido à disputa eleitoral entre civilistas x militaristas, representados por Rui Barbosa x Hermes da Fonseca, os marujos percebem um momento favorável à alteração de suas condições, já que Rui Barbosa defendia as reclamações dos setores subalternos das Forças Armadas. O vencedor do pleito foi o militar Hermes da Fonseca. Cabe ressaltar que o chicote e os castigos físicos tinham sido abolidos em vários países, como França, Rússia, Inglaterra e Espanha. Portanto, aquele tratamento era um anacronismo e um problema a ser resolvido.
Em 1910, as condições de trabalho dos marinheiros eram degradantes e o castigo físico uma realidade. Era um paradoxo: a moderna Marinha brasileira tratando seus marujos aos moldes escravistas. Importante ressaltar que 90% da marujada eram negros e 10% oficiais da ainda poderosa elite agrária. Era um barril de pólvora prestes a explodir. O que aconteceu após a condenação do marinheiro Marcelino Rodrigues, sentenciado a 250 chibatadas por ato de indisciplina.
No dia 22 de novembro, os marinheiros sob a liderança de João Cândido dominam os modernos navios da frota nacional mirando seus pesados canhões à Baia de Guanabara.
O presidente recém-empossado da República, Hermes da Fonseca, bem como a elite da época, estavam incrédulos. Era o início da Revolta da Chibata.

ARILSON DOS SANTOS GOMES

Historiador

Fonte: Jornal Correio do Povo, Edição de 22/11/2010, p. 2.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Sua participação é fundamental. Deixe um comentário.